O SAPO  E O  VEADO

Certo dia, há muito  e muito tempo,
Com os bichos reunidos numa festa
O veado, saltitando e todo garboso,
Propôs a "Primeira Corrida na Floresta"!

Disse o leão, de forma inteligente e sensata:
"- Amigo veado, você corre pra danar...
Será que algum animal dessa mata
Arriscaria correr contigo... te enfrentar?"

"- Eu arrisco!" - disse a lesma, de repente,
Com a sua voz baixa, fina, arrastada...
"- Quero outro animal que me enfrente,
Porque você, lesma, não é de nada!"

A  lesma olhou para o veado, assustada,
Com tamanha insensibilidade e arrogância
E por entender que não valia nada...
Recolheu-se à sua insignificância.

"- Eu arrisco!" - disse a águia, emplumada,
Abrindo as asas e sorrindo, numa boa!
Disse o Leão:"- Você está desclassificada!
Não pode participar bicho que voa!"

A tartaruga levantou a mão, vagarosamente...
Mas ninguém permitiu que ela falasse.
O sapo pulou para o meio e, decididamente,
Disse: " - Vamos acabar com esse impasse?

Eu vou enfrentar esse arrogante veado!
Arrogância é um sentimento chulo!
Se ele pensa que vai ganhar... coitado!
Eu vou vencer a corrida, de pulo em pulo!"

Respondeu o veado, rindo e zombando:
"- Olha a audácia dessa coisinha louca!
Amigo sapo, você deve estar brincando...
De grande você só tem os olhos e a boca!"

O sapo, sentindo-se humilhado e ferido,
Pulou bravo para cima do veado.
A bicharada armou o maior alarido...
E choveu pancada pra todo lado.

" - Ordem na mata! Ordem na mata!" -
Urrou o leão, raivoso, forte, imponente...
O ganso parou de bicar a pata;
O jacaré cuspiu uns dois ou três dentes.

Tendo os bichos, finalmente, se acalmado,
O leão, para por fim a toda aquela rebeldia,
Tomou a palavra e deixou acertado
Que a corrida seria no outro dia.

E disse: "- A cada cem metros corridos,
Você, veado, vai olhar pra trás e dizer:
(- Cadê você, inimigo sapo aguerrido?
Desista logo, pois você irá perder!)
E eu declararei que você terá vencido
Se, por não te ouvir, o sapo não responder!"

"- Quanto a você, sapo ousado e desafiante,
Feche a boca e mantenha aberto o ouvido,
Pois, o veado estará sempre, de ti, adiante...
Ou seja, posso afirmar que vocé está perdido;
E, por mais que você esteja motivado e confiante,
Se não responder... te darei por vencido!"

Os outros veados procuraram o companheiro
Que no outro dia, bem cedinho,  iria correr
E perguntaram, solidários e faceiros:
" - Em que podemos auxiliar você?"

" - Fiquem sossegados e durmam, meus amigos!
Tá no papo! Eu já ganhei essa  parada!
O que um sapo zoiúdo pode fazer comigo?
Aquele sapo não é de nada!"

Os outros sapos procuraram o companheiro
Que no outro dia, bem cedinho,  iria correr
E disseram, solidários e certeiros:
" Nada tema! Nós estamos com você!

Nós vamos ficar escondidos na mata,
A cada cem metros... vai ser genial!
Quando o veado perguntar, a gente salta
E responde de maneira firme e natural.
Ninguém vai desconfiar de nada...
Sapo é tudo bocudo,  zoiúdo... é tudo igual!
Você fica nos últimos cem metros da jornada
E dá o magnífico pulo para a vitória final!"

Quando o sol anunciou a chegada de um novo dia,
A bicharada já estava reunida, no ponto de largada,
No maior burburinho, na maior algazarra, euforia...
Pelo visto, ninguém queria perder nada!

Foram o veado e o sapo para o aquecimento
-  O veado saltitava e o sapo pulava -
E a bicharada aflita, só esperando o momento
Em que o urso daria o tiro para a largada.

Espocou o tiro... o veado disparou na frente,
Deixando o pobre sapo para trás;
E a bicharada, zombando, inclemente
Gritava: "Já perdeu! Cai fora, rapaz!"

Chegando na marca dos cem metros, o veado
Acreditando que já havia vencido,
Porém, para cumprir o que fora combinado,
Gritou: "- Cadê você, inimigo sapo aguerrido?"

Para sua surpresa, raiva  e espanto,
Aconteceu o que ele não podia prever;
O sapo surge como que por encanto...
"- Estou aqui, bem à frente de você!"

O veado botou sebo nas canelas
E disparou numa corrida muito louca!
- Que ousadia do sapo era aquela? -
O coração quase saindo pela boca.

Mas toda vez que ele lançava a pergunta
Que o sapo teria que responder
Vinha a resposta mágica e profunda:
"- Estou aqui, bem à frente de você!"

Nos últimos cem metros da corrida,
O veado, já com a língua pra fora,
Pensou: "ainda que eu venha a perder a vida,
Vou dar tudo de mim, agora.
Correu mais veloz que um raio...
E já dando o sapo por vencido,
Perguntou, olhando de soslaio:
"- Cadê você, inimigo sapo aguerrido?"

"- Estou aqui, bem à frente de você!"
E num salto leva a fita de chegada, no peito!
E o veado, sem conseguir entender,
Perguntou: "- Qual foi o meu defeito?"
Porém, não encontrou a resposta...
Derrotado, infeliz e humilhado,
Viu que a bicharada virou-lhe as costas,
E, a seguir, caiu desmaiado.

Enquanto isso, o sapo, feliz e saltitante,
Era coroado como herói e vencedor!
E os sapos, naquele mágico instante,
Entenderam a força da união e do amor!



Alexandre Brito - 22/11/2012 - 14:45
(*) Imagem: Google



















Alexandre Brito
Enviado por Alexandre Brito em 22/11/2012
Reeditado em 22/11/2012
Código do texto: T3999345
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