CRIANÇA MALTRATADA

Sonhava ser bailarina girando nos pés,

Sapatilhas coloridas, cabelos com gel,

Arrumadinhos como se fosse uma princesa,

Sobrancelhas levantadas, olhos pintados,

E para completar um leve rubor no rosto.

Imaginava deslizando num palco iluminado,

Ao som de uma orquestra toda engalanada,

E as bailarinas que também compunham o cenário,

Rodavam uma valsa como se fossem fadinhas,

Todas graciosas tirando aplausos da platéia.

Despertava esfregando os olhinhos bem abertos,

E como se estivesse não acreditando no que via,

Pisou descalça no chão frio da madrugada gelada,

Que o pequeno cobertor nem um pouco lhe esquentou,

E sua triste realidade se descortinou quando o sol brilhou.

Não via pássaros cantando nem árvores com flores,

E o córrego que trazia mau cheiro corria preguiçoso,

Trazendo todas as impurezas dos barracos vizinhos,

Pendurados nos barrancos por falta de espaços,

E a pequena garotinha não tinha nem como correr.

Seu mundo pequeno tinha somente pequena trilha,

Onde os moradores transitavam sem ao menos sorrir,

Não existindo entre eles amizades pelas turbulências,

E os conflitos se generalizavam naquele mundo cruel,

Atingindo aquele corpo pequeno cruelmente maltratada.

Sua mãe sem ao menos ter por ela amor e carinho,

Diante das misérias que existiam na favela escondida,

Agredia quando esboçava um gesto próprio de criança,

Como querer brincar mesmo não tendo espaços para isso,

E na pequena trilha ensaiava seus passos de bailarina.

Triste destino de muitas crianças que vivem esses sonhos,

Mas as condições de misérias impedem isso se concretizar,

Além dos maus tratos que deixam marcas no corpo pequeno,

E quando se recolhem na noite escura para o sono chegar,

Vão imaginando na sua inocência ainda serem bailarinas.

30-11-2012