O RITUAL DA CHUVA

Onde canta a saracura

Nos quintos da brenha escura

Deu-se um festejo

De espaventar os cabelos

. . . . .

Escondeu-se o jabuti na toca

No antro das minhocas

Tamanha folia

Que o bruxedo fazia

. . . . .

Uma banda de sapos

Línguas de trapo

Batiam os queixos

De torto a direito

. . . . .

Um bando de sacis pernetas

Faziam caretas

Pendurados no cipó milhome

Onde rosnava o lobisomem

. . . . .

Uma cambada de ogros

Papadores de restolhos

Pularam a canga

Prá juntar-se a zambra

. . . . .

Um gárgula mostrengo

Com asas de morcego

Olhos cor de fogo

Resmungava como lobo

. . . . .

A bruxa Malastéria

Entre todas a mais feia

Com seu cajado de madeira

Catava lenha prá fogueira

. . . . .

Saracoteavam um ritual

Num pentagrama de sal

Na forma duma estrela

No lume de velas

. . . . .

Cantavam feito corujas

Invocando chuva

E o céu respondia

E a lua se escondia

. . . . .

E ao cair a chuva

Se foram em vassouras de guamxumba

Deixando no espantalho

Um coração riscado

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 09/02/2014
Reeditado em 01/07/2014
Código do texto: T4684619
Classificação de conteúdo: seguro