O VELÓRIO DO LOUVA-DEUS
Zuniam as cigarras
Nas folhas penduradas
Se queixando da catinga
Esticando a barriga
Varriam o chiqueiro
Com folhas de sabugueiro
Esbeltas formigas
De pernas retorcidas
Repicavam os gafanhotos
Trevos e louros
Prá empacotar o louva-deus
Que no inverno escafedeu
Os grilos de reclame
Pendiam nos baldrames
Pechinchando os refugos
Deixados pelo defunto
Um sapo cor de espinafre
Benzia o cadáver
Numa prece sem fundilho
Vertendo lágrimas de crocodilo
As abelhas zumbiam
Do proveito que faziam
Ali mesmo vendiam
O mel que produziam
Pernilongos sangue-sugas
Rondavam a múmia
Do louva-deus ressequido
Como um bando de vampiros
Na sombra dum cogumelo
Foi o louva-deus sepultado
No lugar mal-assombrado
Nem lesma passava perto
E minhoca muito menos
E numa folha de coentro
Carregada pelo vento
A alma do louva-deus
Subiu pro céu
Acenando o último adeus
Depois no lugar uma flor nasceu