BOEMIA

Dentro do quarto úmido e pouco iluminado dormia ela: torta e embrulhada

entre os farrapos quase nunca lavados

pelo piso os objetos espalhados

as calcinhas, as meias, os sapatos

tudo posicionado à maneira do descaso

toca de bicho do mato

o comodo da casa que nunca era apresentado

lar das traças dele germinado

ao corpo da lagartixa na parede pendurado

em meio ao caos de um lixo exteriorizado

apenas os livros na estante organizados

meio-dia, o seu último suspiro de um sono sossegado

ninguém a mandou passar a noite em claro

a Cuca bate a porta:

"Acorda, menina! Vai lavar os pratos!"