VIVENDO OUTRORA AGORA

Se no outono da vida

a quimera um dia torna

e novamente refulgem

passadas emoções natimortas,

adolesçamos outra vez, querida!

Se o arroubo e o encanto

de verões furiosos não se foram de ti...

Se ainda danças a valsa louca

de volteios e rodopios febris,

giros, giros, giros, giros...

Se as entranhas abissais das grutas

onde mergulhávamos atordoados

ainda ecoam nossos gritos,

e voltam, como sismos loucos,

ao epicentro telúrico de teu ventre...

Se as estrelinhas na entrada do Pasmado

tornam a encher o copo da Água Salutaris

e tatuís-suicidas enterram-se nas areias do Posto Seis

enlouquecidos pelo zumbido de lambretas

que desfilam na Atlântica sem calçadão...

Se o coração tem chamas ainda

e há desejos de sol, de mar, de bonde de Ipanema,

de lotação “Castelo-Forte” ou de uma taça de Martini Bianco

no esconderijo do escritório...

Se há lembranças de renúncias em noites chuvosas,

se há frio no corpo, mas calor na alma...

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

vamos rolar de amor nas dunas do Píer,

escandalizar passantes no Centro da Cidade,

trocar carícias avassaladoras

nos entre-andares dos elevadores

e nos desvãos de escadas...

E, assim, sem medo e sem sofreguidão,

saborear de novo, com a volúpia doutrora

o arrebatamento de nossa antiga paixão!

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(Renato Alves )

Renato Alves
Enviado por Renato Alves em 29/05/2008
Código do texto: T1010701