VIVENDO OUTRORA AGORA
Se no outono da vida
a quimera um dia torna
e novamente refulgem
passadas emoções natimortas,
adolesçamos outra vez, querida!
Se o arroubo e o encanto
de verões furiosos não se foram de ti...
Se ainda danças a valsa louca
de volteios e rodopios febris,
giros, giros, giros, giros...
Se as entranhas abissais das grutas
onde mergulhávamos atordoados
ainda ecoam nossos gritos,
e voltam, como sismos loucos,
ao epicentro telúrico de teu ventre...
Se as estrelinhas na entrada do Pasmado
tornam a encher o copo da Água Salutaris
e tatuís-suicidas enterram-se nas areias do Posto Seis
enlouquecidos pelo zumbido de lambretas
que desfilam na Atlântica sem calçadão...
Se o coração tem chamas ainda
e há desejos de sol, de mar, de bonde de Ipanema,
de lotação “Castelo-Forte” ou de uma taça de Martini Bianco
no esconderijo do escritório...
Se há lembranças de renúncias em noites chuvosas,
se há frio no corpo, mas calor na alma...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
vamos rolar de amor nas dunas do Píer,
escandalizar passantes no Centro da Cidade,
trocar carícias avassaladoras
nos entre-andares dos elevadores
e nos desvãos de escadas...
E, assim, sem medo e sem sofreguidão,
saborear de novo, com a volúpia doutrora
o arrebatamento de nossa antiga paixão!
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(Renato Alves )