Memória nula

Hoje tive um lapso na memória

Um momento em que rasguei palavras velhas

E joguei ao alto sonhos antigos

Rasguei promessas

Desobedeci a necessidade de nostalgias

Foi hoje, no raiar de mais um dia sem sol

Que joguei desejos ao vento

Palavras perdidas de esperança sem intento

Hoje enxerguei os dias como se fossem um só

Uma única lágrima perdida numa imensidão de luto negro

Um último sorriso belo que se apagou nas cinzas

Hoje, o ontem veio beijar o amanhã.

Pra consolidar a mesmice das coisas

E certificar que tudo na vida se resuma em um lapso

Todas as lembranças em um código

Que repete a vida como um filme

De personagens diferentes e atos iguais

Meu lapso me diz que o que foi perdido um dia volta

Na mesma forma, numa outra imagem.

Da memória que um dia morre com o corpo

E no final não posso nem pensar

Se vale a pena viver a morbidade dos dias

Para esquecer tudo depois em um pequeno deslize

Que vale por todo o sempre

A confusão dos pensamentos, as dúvidas dos viveres.

Lentamente somem em lapsos e vão se apagando na minha mente

Até que a chama dos pensamentos se resuma em cinzas de silêncio

E as horas passem sem que eu sequer note

Por estradas de subúrbios iguais

Hoje talvez a vida se resuma em viver sem pensar

Até onde o sol toca o horizonte distante

E recomeça mais uma noite de luzes acesas sem sono

Vou incinerando lentamente numa chama que vem da alma

Os lapsos perdidos de uma mente febril

E trabalho sem parar para construir um futuro

Que nem ao menos sei se um dia virá

Em algumas horas do dia de hoje

Os erros desabam e invadem a mente novamente

E as imagens apagam as lembranças em sussurros quase mudos

Para se repetirem no amanhã dos anos

E copiar descaradamente o ontem dos reflexos

Em um rastro de uma lembrança apagada

Perdida na triste memória de alguém como eu

Que tenta lembrar a vida e trazer de volta a alegria dos dias

Que esqueci pelo caminho sem perceber