O café de coador fumegando sobre a mesa
O sol da manhã desmaiado na vidraça
Papos rolando soltos, sorrisos animados
Pessoas descontraídas conversando na praça
 
Calor e o sossego parados na atmosfera
Moças de olhar distante e as mentes a vagar
O relógio da matriz badalando preguiçoso
Marcando o tempo que não queria passar
 
Esta é uma fotografia no início dos anos 60
Da pequena cidade de Iacanga, onde nasci
Pele das minhas lembranças, abertas ao sol  
No redemoinho dos sonhos que lá vivi
 
Ahh..dias aqueles, tão longínquos e mornos
Ninguém ligava de usar botinas, calça cerzida
Tudo parecia encaixado, havia menos medo
A esperança era apenas uma estrada cumprida
 
O que dançava na cabeça das pessoas?
A próxima safra, o frio do amanhecer
O medo da geada, a carestia, coisas assim
O custo de vida resumia todo peso de viver
 
Eu menino pouco entendia das coisas,
Para mim a vida era simples e verdadeira
Nem botava atenção no diz-que-diz dos adultos
Sempre nos foi vedado questões financeiras
 
Tínhamos um comércio e uma pequenina fazenda
Na qual havia gado, porcos, plantava-se café, algodão,
Quase tudo era feito em casa, manualmente
A vida era dura, porém plena e assentada no chão
 
O que mais me lembro e que não vejo mais
Era a calma com que tudo se resolvia
Contava-se nos dedos a gente apressada
O dia, como um rio preguiçoso, lento, escorria
 
A vida para mim era também como um rio
Como o que passava no fundo do quintal
Íamos remando, desfrutando da existência,  
Havia alegria, às vezes brigas, pitadas de sal  
 
Ás vezes os homens ficavam sisudos  
A notícia ruim sobre o café causava reboliço
Passava a azeitar as conversas do dia a dia
Homens preocupavam-se com os compromissos
 
Nem tudo eram flores, haviam dificuldades
Que não chegava tirar o sono de ninguém
A coisa se ajeita, diziam, repetindo o ditado
“Quem nasceu pelado, vive com vintém”
 
Minha mãe cuidava da casa e da filharada
Éramos doze, inimaginável hoje em dia
Eu era um dos caçulas, gêmeo e arteiro
Nunca tivemos a casa nem a vida vazia
 
Desde cedo todos trabalhávamos
Aprendemos a ganhar o pão com suor
Ninguém se enricou, todos vivemos do trabalho
O que era bom ou mal, todos sabiam de cor
 
Perdoem se alongo,mas qdo se abre o passado
Reminiscências vêm à tona como um cata-vento
São as lembranças daquele moleque tímido  
Que guardou na alma, as fotos do seu tempo!
           
 
Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 21/11/2008
Reeditado em 17/06/2016
Código do texto: T1295409
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