AS RUAS



As ruas ganham contornos concretos,

a poeira não se suspende mais,

não há pedras,

não há buracos,

não há carroças, nem cavalos.



As ruas ganham coloridos diferentes,

mas não há mais crianças,

não há mais as fofocas no terreiro,

não há nem velhos, nem cadeiras,

as janelas se fecham,

não há mais pipas, há fios elétricos.



As ruas ganham mais carros,

mais máquinas, mais perambulantes,

mais máquinas, mais corpos,

mais máquinas, menos gentes.



As ruas ganham o desconhecido

sempre percebido, sempre previsível.



As ruas não dão mais onde davam,

nem passam mais pelas esquinas da minha casa.

Talvez elas tragam a paz,

ou talvez tragam a solidão,

ou mesmo o nada!



As ruas ganham o grande... E o longe... O longe...