O PREÇO DA MODERNIDADE

Cidade já grande
Feita de corpos estranhos
Onde em passos procuro
Um horizonte sem pedras.

Busco e não encontro
Viro, reviro e não acho
Desfaço-me de antigas memórias
Corro, salto, grito, me calo
Pergunto, sigo pistas, me refaço
Volto no tempo, acordo, relaxo
E me pego, de novo, nos meus passos.

Antes corria pelos espaços
Todos atapetados pela natureza
Havia árvores, flores, frutos
Ar límpido, paisagem bela
Onde pássaros gorjeavam
Sempre nos altos das copas
Trinando em harmonia com o verde.

Hoje, matou-se o que era belo, o natural
Deixaram apenas uma selva de pedras
Erguida, espigada, lá no alto, vertical
Placas, outdoors, mensagens, propagandas
No meio de atônitos e perdidos viajantes
Convencem os incautos a se fazerem modernos
E esquecerem-se dos tempos de crianças.

Reluto, esbravejo, convoco o passado
Lembro dos parques, dos pés de manga
Dos cajueiros, das siriguelas, dos tamarindos,
Das cajaranas, goiabeiras, graviolas
Recordo das brincadeiras nas águas do rio,
Onde pular, nadar, mergulhar e boiar
Era a acepção de viver dos tempos que não voltam mais.

Hoje, de terno e gravata, no meio de prédios tão altos
O vento já não é tão forte – esbarra na muralha de pedra
Passo o dedo pelo colarinho, ofegante de calor
E desaperto o nó da gravata buscando o ar que me falta
É a modernidade, repito para me consolar
E vou em frente, sem olhar para trás
Corpos estranhos, selva de pedra, concorrência, desamor...





Obs. Imagem da internet

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 01/01/2009
Reeditado em 10/04/2011
Código do texto: T1362512
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