Ausência

Fecho os olhos.

Vejo-te.

Mas ainda não posso te tocar.

Não sinto teu cheiro, não escuto tua voz.

Então mergulho em minhas lembranças.

Antes tão difíceis de alcançar, agora visível na tua ausência.

Esforço-me a ter algum vestígio de tua infância.

De ver teus cabelos atrapalhados a cobrir teus olhos enquanto brinca com o mistério e a novidade, que lhe apresentam como Vida.

Do teu rosto lambuzado pelas guloseimas de que tanto gostava ou ainda gosta.

De brincar dando tapas em uma rosa ao vento, em tua inocência de ser criança.

De abraçar suas bonecas, jurando proteção e fidelidade eternas.

Mas não possuo as reminiscências de importante época.

Então apenas suponho imaginar.

Agora a minha frente, vejo tua forma de mulher.

Os cabelos a frente de teu rosto, lhe atravessando a face.

Escondem o brilho dos teus olhos... Mas dão grande encanto e ar de misteriosa beleza. Talvez não quisesse que vissem tua feição, talvez não quisesse ver certas coisas...

Mas teu sorriso meio contido, continuava ali.

Alguém se atreveria a eternizar linda cena com pincel e tinta?

Seus lábios se mexem a pronunciar algo.

Algo que nunca chegará ao meu ouvido.

Pois nada escuto.

Então acordo.

Quero fechar novamente os olhos.

Quero voltar a te ver aqui.