O tempo e a carranca.

E o vento que sopra é carrancudo,subo o rio velho e maltratado pelo mesmo caminho carrancudo. Os pássaros, os insetos, os mamíferos a se banharem...todos carrancudos. Meu tempo estático e velho, sem pretensão, segue no mesmo norte carrancudo. Não ha em mim momento de pensar, escapulir diante de meu corpo e me deixar ir. O sofrimento dissipa-se nas tábuas velhas desta embarcação carrancuda. Meu olhar embaça no tédio deste momento carrancudo.Cubro meu ombro do frio nostálgico que me rompe a carne carrancuda. E o velho boné que, trapilho, apenas me acompanha. O reflexo na água que me inspirava ainda jovem, mostra-me agora o que realmente sou:-sou uma carranca que sucumbe neste tempo!

Antonio Luís Gaspar

ALGaspar
Enviado por ALGaspar em 24/04/2006
Código do texto: T144729