Saudade

Saudade de meu pai “seu” Vigário, de minha mãe dona Conceição,

Saudade do Rio Salgado, da “Volta” de Chico Amor, e do sítio Pavão,

Saudade da Fazenda Cabrito, onde dormíamos e acordávamos cedo,

Saudade do engenho, da bagaceira, e dos raios de Zeca Macêdo...

Saudade de banho de chuva, das trovoadas que davam medo,

Saudada de vô Chico Cândido, e de “Bajarra” de nome Antônio Alfredo,

Saudade de Chico Israel, e do sítio Volta onde morava Tia Dita,

Saudade das renovações, do medo dos mateus e seus adornos de fita...

Saudada do tropeiro Doca Milhomem, sempre zelando sua tropa bonita,

Saudade das festas do Tipi, e as meninas todas com lindos vestidos de chita,

Saudade do vaqueiro Zé Carneiro, de Vicente Cosmo, e do amigo Zé Maitá,

Saudade de Antão, de João Fama, e dos fojos armados para pegar preá...

Saudade de João Augusto, do poço da Marsalina onde comecei a nadar,

Saudade do Rio Salgado, onde os caris nos convidavam a mergulhar,

Saudade das noites escuras, do cavalo Lua Branca, saudade da puberdade,

Saudade de “brincar de anel”, “cai no poço”, oh! Quanta ingenuidade...

Saudade do trem de ferro, da casa grande, do namoro sem maldade,

Saudade dos conselhos que se ouvia, riquíssimo em sinceridade,

Saudade de “brincar de se esconder”, da brincadeira de toca,

Saudade da burra Vaidosa, do jumento Miúdo e suas orelhas com moca...

Saudade de Raimundo Felinto, de Zé Pequeno, e Chico Doca,

Saudade de Vicente Cosme, das noites enluaradas, do bate-papo e fofoca,

Saudade de Tio Cazuza, de Tio Duque Joaquim, e de meu Tio Zequinha,

Saudade de Maria Muda, de Amora, de João Vigário e de Tia Mariínha...

Saudade de Antônio de Lu, João Joaquim e França minha madrinha,

Saudade de bolo de puba, da buchada, e de pirão com galinha,

Saudade dos queijos de coalho por minha mãe espremido,

Saudade das ventanias que deixava nas frestas seu gemido...

Saudade do milharal com seu produto já pronto prá ser colhido,

Saudade do terreiro que com vassoura de cipó era varrido,

Saudade de Zé Amorim, velho tropeiro do sítio para a cidade,

Saudade dos cambiteiros, saudade do caçuá, e finalmente saudade...

Saudade! Saudade, quando lembro a mocidade, mais aumenta a saudade,

Saudade! Se não existisse saudade, mesmo assim, eu sentiria saudade...

Arimatéia Macêdo – www.arimateia.com