Um rio na memória

Nas lembranças de minha infância havia um rio.

Nele aprendi a nadar e a pescar.

Em suas margens, passei horas e dias

de incontáveis descobertas.

Em suas areias escrevi versos utópicos,

e namorei, e recebi afetos.

O som de seu marulhar inspirou canções,

nunca escritas, apenas sonhadas.

Suas pedras ouviram, silenciosas,

os suspiros agoniados de minh’alma poeta.

Hoje não há um rio, apenas

tristonhas águas sem vida,

que correm cumprindo seus destinos.

As pedras, solitárias, ficaram surdas.

Os versos na areia, de tão utópicos, foram apagados

e esquecidos.

As canções; nunca mais lembradas.

A alma poeta, envelhecida,

apenas sonham um rio que havia

na lembrança.