VELHA OLIVETTI
Mesa cheia, atolada de papeis,
Um apontador enferrujado,
Um painel de alumínio com fotos,
Uma pilha de livros ao lado.
Sem querer estão os clipes
Atirados, dispersos, alienados,
Figuras metálicas contorcidas.
Um fichário desbotado não ri,
Queixa-se de estar abandonado,
Enquanto o calendário se alinha
Querendo virar o mês com elegância.
A mesa, esta sim, se sente cansada
E sobrecarregada com tatos desconhecidos.
Lembra saudosamente da velha Olivetti
Que continua encostada no canto,
Com seu ar senil e contundente.
A luminária se acende colérica
E clareia a penumbra das gavetas,
Lotadas e empoeiradas,
Contendo suas fórmulas de boa vizinhança.
Repentinamente a porta salta,
O vento distancia as semelhanças
E recolhe com precisão
Pedaços de simpatia dos cadernos:
Cada momento em silêncio
Traz um pouco de saudosismo.
Da vidraça vem uma friagem
Que embaça o ambiente.
Lá fora, acima dos carvalhos,
Se vê o entalhe perfeito da lua.
9 DE MAIO DE 2009.