SOMBRA DO PASSADO
Vaga a mesma sombra do passado.
O poente anda cansado
dos contrastes, dos bordados.
À porta do horizonte
se defrontam monstros sagrados,
que se esquecem da humildade,
mentem para a verdade,
iludem-se com o próprio passado.
Conheço os passos dessa sombra,
escondida entre lembranças,
irriquieta e assustada se levanta,
desce do seu apogeu ilusório
e chega ao beiral dos muros.
Vê ao longe uma fumaça
(duvidosa consigo e a desgraça).
Quer fugir do que existe
- o ruim, o errado, o feio.
Tudo é rude e frígido aqui fora.
O poente cansado se debruça calado.
Brilha à última risca nebulosa
e vai distante relembrar o seu passado.
5 de outubro de 1977.