MEMÓRIAS DO PASSADO

Autor: José Ademir Tasso (2001)

(Homenagem à Subestação de Energia Elétrica Engenheiro Francisco Paes Leme de Monlevade, em Louveira, que iniciou suas atividades em 24 de Outubro de 1921, no trecho experimental com tração elétrica de Jundiaí à Louveira e funcionou até o dia 19 de julho de 1999, quando foi desligada por completo).

O relógio derreteu-se em minhas mãos...

Separei as horas dos minutos e peneirei os segundos do passado.

Colhi braçadas de saudade!

E sobram ausências nas teias de aranha...

Nos cantos das salas...

A úmida partida dos que se foram deste casarão

ainda é presença nos cantos sombrios.

O mistério ecoa...perturba...

Os gritos morrem nas gargantas mudas!

Chamo os que passaram por estes corredores lúgubres!

Corredores outrora radiantes de luz...

Luz do trabalho!

Luz da amizade!

Luz da conquista!

O mistério ecoa...perturba...

Para onde foram os que a noite vestiu de eterno sono?

Andemos.

Andemos a passos firmes enquanto a noite não nos abrace

com sua frieza mortal.

Estamos vestidos de sono...

E a qualquer momento...em qualquer lugar...

O sono pode nos abraçar.

Ah, amigos que outrora cruzaram seus braços cansados e frios

sobre o peito inerte!

Renderam graças pela luz...graças pela vida!

E hoje, a saudade infinda, dorida, vem nos falar ainda dos restos de sol

que a tarde deixa morrer sobre o mar!

Ouço!

Ouço ainda!

Como grito de guerra o troar do vagão...

O apito que apela...

Ergam a cancela!

O trem vai parar na estação!

O soluço da máquina na mão do homem!

O brilho das conquistas dos que hoje dormem...

Ainda brilha nos olhos daqueles que ficaram a recordar!

O passado passou...

O vazio abrigou solidão nesta casa agora despida, fria, quase esquecida...

Mas romperam as comportas do tempo e os trabalhadores acordaram!

A casa, viva chama, onde outra vez eu diviso a imponência das alamedas e o labirinto do jardim...

Erguido o edifício, revejo hoje o lugar das minhas recordações...

E a casa das sombras mortas se ilumina...

Passo a passo adentro sorrateiramente o passado...

E um novo sol cintila!

Hoje, nesta casa da Sub-Estação, sou força...

Sou glória...

Já não sou mais o estrangeiro do meu chão!

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 19/06/2009
Código do texto: T1656778
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