Observador

Fumando seu cachimbo,

o velho observa:

a juventude se foi,

os tempos mudaram,

o desfeche está por vir.

No fim da tarde,

o velho observa:

o Sol morrer no horizonte

e pensar se é a última vez que o verá.

No fim da noite,

o velho observa:

já não é mais esperto como outrora.

Seus passos são limitados.

Seu corpo dói.

Não com a mesma intensidade,

enxerga o brilho das estrelas.

Analisando uma criança,

o velho observa

e lembra dos filhos que não foram adultos,

filhos que não existiram,

que viveram adultos,

que morreram adultos,

que a guerra levou.

Ele, velho, sem filhos, só.

Tocando uma flor,

o velho relembra

das mulheres que amou,

das mulheres que odiou,

das mulheres que o fizeram sofrer

daquelas que o fizeram acreditar

que o paraíso não era mentira.

No último instante,

no seu suspiro cansado,

o velho afirma:

que o que parecia tão grande,

na verdade é pequeno...

Os dias passam num piscar de olhos:

num momento, entre os campos,

criança correndo;

noutro adulto, pecando;

há pouco tempo velho, sábio incapacitado....

Ahhh, finalmente agora,

fechando os olhos para ver a verdade.