Lembranças em Adágio

Ho sangria que me decepa a alma,

Já não se desfaz neste indulto espirito,

Em demasia e de forte indício

Dentro dos olhos que já não se acalmam,

E há mais, que de mais se sente

Neste expeço tecido da existência

E essas dores e total demência

De mim se apossam e meu peito abalam.

É a dúvida a maior tortura

E a incerteza o pior algoz,

Que tanto fere me calando a voz

Como um ruflar de azas, esta densa dor.

Meu peito sangra constantemente

E esse sofrer me corrói a míngua,

Tapando os olhos, cerrando a língua,

Transformando-me em um céu sem cor.

Jamais teus olhos verei um dia

Nem gozarei deste teu sorriso,

Mas sinto em mim que de mais preciso

Ter tanto afinco desta ilusão,

Secar-me o pranto com um doce beijo

Tragar-me o corpo prá junto ao teu

Acalmando o peito que não esqueceu

De tão lívida e fugaz paixão.

Fecho os olhos ao sentir prá sempre

Que, viverei a guardaste em mim,

Sei que após começo a meio e fim,

Mas não me obrigo a ter lucidez

E nem aceito o que é me imposto

Nem as razões por não ser capaz,

Pois nada em mim já não se refaz

E o que me resta é total mudez.

Tudo ama desta insípida vida

E ninguém vive sem viver amores,

Mesmo guardando gigantes dores

E as lembranças do que passou

E como um dia irei esquecer-te,

Se já escrevi junto a ti minha história?

Eu sei que um dia fostes embora,

Mas em meu coração prá sempre ficou.

Eduardo Costa
Enviado por Eduardo Costa em 22/08/2006
Código do texto: T222945