UM OUTONO VERMELHO

Quando vi o vulto no corredor com os ombros caídos corpo moído

Cabisbaixo solitário miúdo

Não reconheci naquela criatura a mãe que tive

Sabia que viu muita carnificina mas também se certificou a preferência

No desconhecer aquilo que imaginou conhecer

Quando me vi gorda

Mesmo estufada

Sabia que no tédio vivia

Onde rola dinheiro ora bola

Onde grita roxa a paixão ora impulsividade

Onde tem multidão ora massificação

Aquele cheiro ardido penetrou pelas narinas

Não tinha origem era mesmo do ar

Ficou por alguns segundos e se foi

Acendi a vela no altar

A cachorrinha dorme suave na poltrona

As filhas dormem e o marido viaja

A cidade acordada

A astúcia negada

Não tinha cabeça para usá-la

Nascida assim perplexa não sabia discernir

Tinha um corpo a cumprir talvez fosse a descendência

Alguma coisa ficou pelo meio do caminho na vibração instantânea

Aquela paisagem de um outono vermelho refez um trajeto de memória

do dia na hora do instante

A parede vermelha acolhe o marfim das molduras

No centro uma viagem perdida

Nas telas a vida vivida

Neuza Ladeira
Enviado por Neuza Ladeira em 24/07/2010
Código do texto: T2396392
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