UM OUTONO VERMELHO
Quando vi o vulto no corredor com os ombros caídos corpo moído
Cabisbaixo solitário miúdo
Não reconheci naquela criatura a mãe que tive
Sabia que viu muita carnificina mas também se certificou a preferência
No desconhecer aquilo que imaginou conhecer
Quando me vi gorda
Mesmo estufada
Sabia que no tédio vivia
Onde rola dinheiro ora bola
Onde grita roxa a paixão ora impulsividade
Onde tem multidão ora massificação
Aquele cheiro ardido penetrou pelas narinas
Não tinha origem era mesmo do ar
Ficou por alguns segundos e se foi
Acendi a vela no altar
A cachorrinha dorme suave na poltrona
As filhas dormem e o marido viaja
A cidade acordada
A astúcia negada
Não tinha cabeça para usá-la
Nascida assim perplexa não sabia discernir
Tinha um corpo a cumprir talvez fosse a descendência
Alguma coisa ficou pelo meio do caminho na vibração instantânea
Aquela paisagem de um outono vermelho refez um trajeto de memória
do dia na hora do instante
A parede vermelha acolhe o marfim das molduras
No centro uma viagem perdida
Nas telas a vida vivida