ANTIGAMENTE. ANTIGAMENTE...

Antigamente... Eu era pejado de brios

Um fogo nos olhos birrentos, abusados e espremidos

Encrespava por coisa pouca, mas pouca mesmo...

Fora os romanescos desvarios de tripular navios...

Achava que iria enricar cedinho, até os trinta

E passaria daí ao resto da vida a borboletear

Por paradisíacas e assoalhadas ilhas perdidas

Acompanhado de suco de limão e das vagas do oceano...

Antigamente... Queria ter quatro filhos...

E era eu com os moleques no futebol de domingo,

Eu a consertar as bonecas descabeladas das meninas...

Os garotos de calção azul, as gurias de fitinha rosa

Sonhos de empafiada ternura, doçura estéril...

Devaneios nítidos, de suavidade pavorosa!

Como as coisas tresandaram, não sei ao certo

Provavelmente não queira recordar-me,

Ou, sabe-se lá se andaram em rumo reto...

Mas havia um varal em que dependurei a vida ensejada

E essas idéias ficaram a embotar, desbotar, desvanear...

Após, empoaram ao transcorrer do tempo

A ponto de não reconhecê-las mais pendentes por lá...

Foram mitigando sua fascinante relevância

A juventude foi se fragmentando, delindo a meninice

E conforme firmemente fui envelhecendo

Esqueci-me do que soube, do que eu disse, se disse...

Reencontrei-me aqui, a descrever-me, perplexo, logo hoje