RECORDAÇÕES

O menino “volta a subir a rua de Santana”. A doce criança refaz

A caminhada cotidiana do poeta maior quando ia refletir no Pico do Amor;

Ainda sentia no paladar, o gosto amargo do jiló, que envergonhado em rejeitar,

Almoçara na casa da tia, a lavadeira que surrava no córrego, a sujeira do dia-a-dia

Era janeiro, solstício de verão.

O sol parecia agarrado no firmamento estupidamente azul,

Pesado fardo às costas, carregava aquele menino então...

encomenda que fora buscar a mando de sua irmã mais velha.

Naquele tempo, mandado de irmã mais velha, tinha força e autoridade de pai e mãe.

E ele se arrastava ladeira acima,

rua de pedras calçadas, negras e luzidias, que ao contato, os pés resvalavam.

O fardo que carregava levava precioso tesouro que a irmã pedira,

Um vaso de argila para plantar flores, que nem pesado era,

Para ele, ainda tão novo, o fardo tinha dimensão e peso da cruz do Divino Mestre,

E ao Mestre, certamente rogava que aliviasse a dor e o cansaço da marcha, pois

A encomenda deveria ser entregue, a irmã esperava...

Certamente já preparando a terra e a planta a ser cultivada...

O piar renitente de uma araponga, ave de canto agudo e potente, (que há muito desapareceu destas bandas) soava ao longe e lembrava o oficio do ferreiro, que na bigorna o ferro quente malhava, prende a atenção do menino.

E ele para, com a manga da camisa, feita de saco de trigo, respira fundo;

Enxuga o suor que teima em não parar de correr,

O pesado fardo, que nem pesado era, resvala, solta-se das mãos, cai ao chão...

Uma “furtiva lágrima” escapa, acompanhando o fardo, e o vaso se desfaz em mil...

(Para a irmã mais velha, Maria da Conceição- Neném- )

J.Mercês – 03.11.2010

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 03/11/2010
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