JAPI
Ele chegou em casa em meados do mês de junho.
Em pleno inverno, pelas mãos do mano Taci.
Era bebezinho, de cor acinzentada e chorava muito.
Pensei que estivesse sentindo falta de sua mamãe.
Mas, tia Maria Grande, assim, nós a chamávamos.
Até hoje, não sei se Grande, fazia parte do nome ou,
Se havia uma outra Maria, de tamanho menor.
Talvez, uma outra Tia de nome Maria Pequena...
Tia Maria Grande logo arranjou uma mamadeira.
Assim, o cãozinho passou a mamar leite de vaca.
Mas toda a madrugada era aquela choradeira.
Lá ia eu, cobri-lo com uma manta velha de Raul.
Assim, Japi, foi esse o nome que lhe demos.
Cresceu, mas não muito, ficou bem baixinho!
Também, era cotó, gordinho, mas, bonitinho!
Eu e meus irmãos passamos a adorá-lo.
Um dia, mudamos para a Fazenda Nova.
Tanto quanto para nós tudo era novidade
Também, para o Japi, que nos seguia alegre.
Por todos os recantos da grande propriedade.
Crescemos felizes na companhia de Japi.
Quando estava entrando na adolescência,
Em meados de junho, em pleno inverno,
Acordei pela manhã e não encontrei Japi.
Todas as manhãs quando acordávamos
Japi estava na porta da cozinha esperando
Para mais uma vez passar o dia brincando
Correndo conosco por todos os cantos.
Gritamos por Japi horas seguidas.
Procuramos pelo quintal, pelo pomar.
Buscamos no curral, no jardim, no rio.
Finalmente encontramos nosso cão.
Deitado de bruços ao pé de uma árvore
Lá estava o nosso querido cãozinho,
Completamente duro! Frio! Morto!
Choramos, gritamos, esperneamos.
Aos prantos resolvi preparar o enterro de Japi.
Pedi ao Precidino um antigo empregado da casa
Que também gostava muito, muito do falecido,
Que abrisse um buraco em frente da varanda.
Depois, eu e meus irmãos, fizemos o enterro.
Com lágrimas nos olhos e uma flor nas mãos,
Seguimos o Precidino com o falecido nos braços
Até o buraco anteriormente aberto, agora, a cova.
A cova do nosso querido e adorado Japi.
Depois de enterrarmos o nosso cãozinho
Escolhi a mais bela flor que tinha no jardim
E plantei uma muda sobre o túmulo do meu cão.
Durante todo o tempo que moramos na fazenda
Em todas as primaveras no túmulo do Japi
Brotava a mais maravilhosa de todas as flores!
A flor do amor, da amizade, do carinho e das saudades!
AnaA. Ottoni
DF/05.11.2206