Álbum de Recortes

Nos anos de minha mocidade,

escrevia em papel de chuva com o dedo da liberdade.

Fui pecador em muitos momentos insanos

Entretanto, se hão de vingar-me nas chamas lá de baixo,

que me queimem como churrasco

e não esqueçam daquele temperinho que amo.

Minha avó preocupava-se com os atrasos compreensíveis de um moleque de interior.

E eu chegava tarde em casa,

com a bicicleta de meu avô.

Certa feita, fui a uma festa na casa do Manuel Carlos, amigo da mesma rua.

Podia caminhar, mas preferi chegar na curtição.

Roubei a bicicleta azul do meu avô...

Minha avó quase morreu do coração.

Ah! Minha velha do coração!

Quantas vezes me abraçou?

Tinha oito anos eu apenas,

quando mamãe me abandonou.

Levaram-na da minha vida,

como rouba a poeira a tempestade

Fazer isso com uma pobre criança deveria ser muita maldade.

Dez anos mais tarde, estavam os pedaços da bicicleta enferrujada

encostados na garagem.

Como os anos passam e nós paramos de dar importância às coisas antes repletas de valor?

Da bicicleta, parece-me, nem a lembrança ficou...

Só restam recortes, um pouco de saudade

E um tico do amor.

Joli Cortês
Enviado por Joli Cortês em 01/01/2007
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