Conversando a gente se entende

Cresci, não muito, vendo

Minha mãe falar com

As plantas, com os peixes no aquário

Com o arroz na panela.

Ela é doida? — perguntava eu

Será que eles entendem?

Cadê as orelhas das plantas,

Dos peixes, do arroz?

Minha mãe era louca?

Não, era e ainda é sábia

Conversando a gente se entende

Comecei a conversar também.

Conversava com os insetos no jardim

De dia tentava conversar

Com os tatus-bola, tímidos e enrolados

De noite com meus luminosos amigos vaga-lumes.

Foi muito bom, foi ótimo, mas

Virei gente grande, não muito,

Achei que não acreditava mais

No que acreditava quando falava com eles.

Hoje, tentativa de poeta, converso com o papel,

Com os passarinhos, com a florzinha amarela

Na rachadura da calçada, com o céu azul,

Com as nuvens escuras, com a chuva, comigo mesmo.

Carlos H F Gomes
Enviado por Carlos H F Gomes em 09/03/2007
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