A Aorta Explodiu
Queria aquela mesma casa
o mesmo afeto
e o mesmo céu.
À espera daquela madrugada que nos salvou.
Os antepassados cheios de constipações estressantes,
com suas histórias mal contadas,
trejeitos, jogos de afeto e chantagismos
que nós herdamos, posteriormente.
lembro-me do latido forte do cão avisando-nos do sono profundo.
Todos cegos, mas ainda vivos.
O velho de listras, o dom das putas, os livros marcados de dedos aborrecidos.
O cravo encravado e as rosas vermelhas e suculentas.
Línguas de sogra, cantigas populares, os 87 anos da matriarca.
-Cujo sobrenome não carrego,
Chá de erva cidreira, mimos femininos
Queria tudo de volta ou então o sono para todos, nada mais justo, não é mesmo?
A segunda fase é sempre a mais dolorosa:
Abandono no túmulo, peles geladas, olhos secos,
roupas perdidas, documentos sem donos.
Sobreviventes indo para Miami,
Heranças... Heranças...
Meus órgãos se romperam, a aorta explodiu,
E teve gente que fingiu que não viu,
Como sempre, sou o mais sentimental, o mais fechado, o mais imperfeito.
Todos amando as novas férias, e eu ainda preso nas investigações,
Ainda morrendo ao ler os diários dos meus amores,
Ainda guardando todas as roupas e ouvindo o bater das portas mágicas.