A Aorta Explodiu

Queria aquela mesma casa

o mesmo afeto

e o mesmo céu.

À espera daquela madrugada que nos salvou.

Os antepassados cheios de constipações estressantes,

com suas histórias mal contadas,

trejeitos, jogos de afeto e chantagismos

que nós herdamos, posteriormente.

lembro-me do latido forte do cão avisando-nos do sono profundo.

Todos cegos, mas ainda vivos.

O velho de listras, o dom das putas, os livros marcados de dedos aborrecidos.

O cravo encravado e as rosas vermelhas e suculentas.

Línguas de sogra, cantigas populares, os 87 anos da matriarca.

-Cujo sobrenome não carrego,

Chá de erva cidreira, mimos femininos

Queria tudo de volta ou então o sono para todos, nada mais justo, não é mesmo?

A segunda fase é sempre a mais dolorosa:

Abandono no túmulo, peles geladas, olhos secos,

roupas perdidas, documentos sem donos.

Sobreviventes indo para Miami,

Heranças... Heranças...

Meus órgãos se romperam, a aorta explodiu,

E teve gente que fingiu que não viu,

Como sempre, sou o mais sentimental, o mais fechado, o mais imperfeito.

Todos amando as novas férias, e eu ainda preso nas investigações,

Ainda morrendo ao ler os diários dos meus amores,

Ainda guardando todas as roupas e ouvindo o bater das portas mágicas.

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 17/07/2014
Código do texto: T4885563
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.