"ESTERCO DE CAVALO NÃO PRESTA"

Para alimentar e dar viço,

Adubar canteiros, fazer cama para sementes,

Ou para se vender e ganhar alguns trocados,

Lá iam os moleques do pé de pomba.

Sacos de aniagem jogados aos ombros,

Catar estrume de vaca, sem medo ou assombro.

Adentravam uma vasta pastagem, um campo largo.

Logo à entrada, uma frondosa gameleira

guardava um certo mistério: diziam que ali,

Sob sua vasta ramagem reuniam-se o demo e seus sequazes,

Tramando contra a vida de cristãos desatentos da oração.

Propriedade de alguém da família dos Guerras,

Era extensa pastagem de capim meloso: grudava nos pés.

Ali eram abrigados vacuns, equinos e muares pastando à larga.

Medravam também arvores frutíferas, típicas de serrado:

O araticum, entre elas, fazia a festa ao paladar.

A catação de esterco começava em algazarra,

Ávida a molecada ia atrás dos estrumes e a farra se dava:

Tinha de ser bosta de boi ou de vaca, pois,

“bosta de cavalo não presta”, dizia o Raimundo Buzina.

Os sacos de aniagem aos poucos iam se enchendo:

Carga valiosa, coisa preciosa, nem mau cheiro exalava.

Muitas vezes, recente, o esterco bem verde ainda,

Produzia e vertia um suco viscoso e pegajoso que vazava

E deixava marcas no lombo e na camisa da meninada,

Que cansada, porém feliz, fazia o caminho de volta:

A cabeça contabilizava quanto cobre renderia a bosta de boi...

J.Mercês

8/7/2015

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 08/07/2015
Reeditado em 05/09/2015
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