PENUMBRA

À distância o menino observava calado.

Encostado no batente da porta não se atrevia

A adentrar a sala, espaço pequeno, apertado,

Onde num triste caixão, um corpo jazia.

Ainda não era afeito às dores do mundo,

Nem compreendia por que a morte existia;

Sabia, porém, que ali num sono eterno, profundo;

O avô paterno dera seu último adeus naquele dia.

Não estava triste, nem sequer consternado,

Espiava tudo em silêncio, do lugar não se arredava.

Olhava o pai no fundo da sala, cabisbaixo, calado;

Talvez sofresse a perda do pai que por certo amava.

Não acompanhou o féretro na hora do sepultamento,

Talvez não fosse coisa para menino ainda criança;

Hoje tudo isso, em imagens vivas volta ao pensamento:

É a única imagem do avô que lhe ficou na lembrança.

J.Mercês

8/8/2015

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 08/08/2015
Código do texto: T5339365
Classificação de conteúdo: seguro