Sebastião
Passa o ancião
Com cem anos de perdão
Aos passos de tartaruga
Cruza a Ipiranga e a São João
A procura do que ficou
Do que ali ele deixou
A oitenta anos atráz
Quando ainda era rapaz
Os bares não mais vê
Também pra quê?
Se não pode mais beber
A menina que paquerava
Bonita era, e muito brava
Dessa nada ali restava.
Lembrou do amigo Agenor
Um boémio metido a conquistador
Do magrelo Jorge
E seu fino bigode
Do filho da dona Zina
Tarciso, viciado em jogatina
O antigo bordéu
Da sua primeira, a Jesebel.
Isso era passado
Já estava cansado
Sentou-se na praça
Já não tinha graça
A bengala colocou de lado
E ali ficou parado.
A hora passou
Ele então cochilou
E ao acordar
A bengala não estava lá.
Alguém tinha roubado
O que não valhia trocado.
E o ancião lembrou
Que o tempo passou
Tv, internet, metrô.
Era a evolução!
E com ela a maldição
Do tudo querer ser
A ganância pelo poder
A simplicidade esquecida
De uma aurora vivida
De sua doce idade
Da bela vivida mocidade.
Agora somente lembranças
Suas valiosas heranças
Seu nome é Sebastião
Um centenário ancião
Vendo que hoje em dia
Se vinte anos tivesse
Feliz como foi jamais seria.