"Alguma coisa ficou"
O que ficou do passado senão
a lembrança de um rio comprido?
Nosso rio comprido e sujo
nosso por do sol beijando o rio
poluído e sujo sim,mas
o rio do inicio de nossos amores!
O que ficou do passado senão
estas samambaias crescidas e
criadas pela imensidão de nossas vaidades?
Alguma coisa ficou.
Ficou teu nome em uma lapide,
tua identidade no bolso de meu colete,
teu amor em tudo que tenho de sensível
e de gente.
Mas algo ficou além do poema doído e
além de tua morte.
Ficou a recordação do nosso tedio, nosso ócio,
engolidos pelos dias de sexo
e de folguedos de cama
nestas fotografias preto e branco,
-brinquedos pregados pelas paredes-
somente para vestir minha memória,
somente para que eu não me sinta oca.
E este rio comprido e vivo que corre aqui em frente, indiferente.