BALADA DO VENTO

Vento que passa voando, arrepiando a crista do morro.

Levanta o pó da terra, dobra o ramo tenro e mole

e vai se perdendo na serra. ,

Vento que fecha porteira e derruba o balde do poço,

bate à janela com força querendo entrar na cozinha.

Vento que apaga o fogo do fogão da cozinheira,

esfria o doce já feito, levanta a toalha da mesa,

buliçoso e travesso.

Vento malicioso, levanta a saia da moça,

despenteia seus cabelos, faz o moço delirar

da janela do escritório...

Vento que mistura papéis, faz o lápis ir ao chão.

Ah! vento que faz sonhar!

A velhinha se arrepia e se enrodilha no xale.

A mãe chama o menino para lhe por o casaco, apesar da rebeldia.

Vento que mexe com tudo, a bulir com toda gente,

essa gente que nem sente que o vento é muito amigo,

mesmo quando à noite passa

gemendo e metendo medo

às mocinhas melindrosas, às senhoras solitárias,

às crianças e babás...

Ah! vento que me abraça quando sozinha me encontro,

quando ando pelas ruas descampadas do meu bairro;

que seca a roupa na corda, apaga a chama do isqueiro

quando à janela debruço a fumar o meu cigarro.

(não fumo mais)

Vento da manhãzinha que respiro com doçura,

quando afastando a cortina vem me dizer bom dia,

esparramando no quarto

o cheiro do campo longe, dos currais da minha terra,

do leite que é tirado de toda vaca malhada

que a saudade faz lembrar...

Vento da madrugada que esfria meu corpo quente

e solitário a descansar.

Vento que traz de longe lembranças da minha infância,

consolando e mimando.

...Entrou areia nos olhos, por isso estou chorando....

Não é nada, isso passa, o vento me fez chorar...

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 26/07/2007
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