HEI DE ME LEMBRAR
HEI DE ME LEMBRAR
Se um dia me faltar à voz
E meu grito nada pronunciar
Dos meus olhos irão sangrar
Minhas resenhas vividas.
Se um dia me faltar o som
E nunca mais poder ouvir
O palpitar do meu próprio coração
Saberei ter a percepção
De ouvir a brado de Deus
Nos cursos dos rios
No estalar da primeira estrela
No debater das marés bravias
Das fúrias das ventanias
Se um dia me faltar à visão
Saberei enxergar o âmago
Das cores sidas...
No diálogo de um olhar
Voarei com as aves no azul do infinito
Mesmo sem sair do chão
Mesmo meio a escuridão
Desenharei no meu intimo
Os risos dos amigos.
Se nada puder sentir
Sequer nenhum elixir
Das mais formosas flores...
Terei o feitio de poetar
O ébano dos amores
Se um dia eu perder o folego
E me faltar o ar...
Ai sim eu sei que vou chorar
A vida vivida, e,
Sem nada no palato sentir
Vou meus lábios selar
E acenar com o suspiro
No último solfejo Álgido
Teu nome meu Deus
Numa prece rouca
Num riso findo
Num apelo febril
No vazio...
Ecoará pra sempre
Teu nome e o meu.
Marisa Zenatte