Há tempos

Tudo tem seu tempo determinado...

Há tempo de nascer e ser abraçado

E tempo de dar os primeiros passos

Há tempo de chorar pra não ir à escola

Tempo de correr atrás da bola

Tempo de pela primeira vez na vida

Descobrir a dor de estar apaixonado

Há tempo de aprender malandragens de criança

De brincar, de brigar, de apanhar e ser apanhado

Há tempo de triste despedida...

De fazer a primeira mudança da vida

Há tempo de novidade

De beijar escondido atrás do muro

Tempo de curiosidades e espinhas

E ainda sobra tempo pro ginásio

Porque tudo tem seu tempo determinado

O choro, o riso, o doce, o amargo

Há tempo de ouvir “Guns ‘n Roses”

P’ro primeiro gole de vinho

P’ro primeiro cigarro (e engasgo)

Há tempo de ir domingo à igreja

E fazer aquela cara de santo que só engana a gente

Tempo pra primeira banda, pra primeira namorada

Pra brincar com a vida e ver a sombra da morte

Tempo de ir ao inferno pela primeira vez

Há tempo de nascer depois de adulto

De perceber

Tempo de coser, de rasgar, de silenciar e de falar

Tempo de acreditar e desacreditar

Tempo de ser idiota

E de se fingir de idiota pra melhor passar

Tempo de ver o inferno pela segunda vez

Há tempo de ouvir Chico Buarque

De ler Kierkegaard

De pura e refinada rebeldia

De entender...

Tempo pra jazz e rock, Dali e Belchior

Tempo pra “Tempos Modernos”

Tempo pra ler e viajar e ficar só

Tempo de nada pra fazer

Tempo de chorar, tempo de rir

Tempo de chorar por ter rido

De rir por ter chorado

Tempo de amar

Há tempo de não saber que tempo virá

E tempo até, de vir a ser o que já se é

Everton Vidal Azevedo

(29/05/06)