O CHAPÉU NOVO

CHAPÉU NOVO.

Enfiei uns cobre no bolso

E fui pra cidade buscar

Um chapéu novo, que o meu,

Já dava pena de olhar.

Tenho usado muito o coitado

Agora nessas audiência

Que me chamam toda hora

Por causa daquela demência

Onde já se viu

Sai por ahi tragueado

Possuído, fazendo arruaça

E atirar para matar os índios

Só para fazer uma graça?

Graças a Deus foram presos,

E serão enfim condenados

Gente assim não vive junto

Tem que ser engaiolado.

E o meu chapéu de ir na missa

Já está gasto, o coitado.

O tempo e tantas histórias

Casamento da Helena.

- dos piá os três batizado.

E do tempo de solteiro

Quanto baile foi dançado!

Tá bom demais pra ir pro serviço,

- Por aqui dá pra usar.

E o outro chapéu velhinho,

ainda tem compromisso

- Da um dó de abandonar.

Falei pro guri mais novo

Dois chapéu eu já gastei

E já que me chega a idade,

eu vejo que novamente

Já não vou mais pra cidade

-Comprar chapéu de presente.

E agora este chapéu novo,

que chega assim meio no tarde,

me fez pensar de repente

Não vai ser gasto igual aos outros,

Não vai ver a doma dos potros

E nem minhas gineteadas.

Vai ver minhas madrugadas

Lembrando as domas e a roças

Lembrar de tudo o que eu possa

Já que chega o meu outono.

Um chapéu novo e seu dono

Devem construir sua história

Mas agora é só memória

De tudo que já se fez

Dia após dia na lida

É como uma despedida

Este terceiro chapéu,

- É o último da minha vida!