Porta retratos.

Faz tanto frio lá fora,

A saudade dum estranho me devora

Espreito a noite pela fresta da janela

O céu escuro faz sombra nos sonhos de moça singela

Busco-o em tudo, na musica, no passado,

No enfado das poucas lembranças

Teu olhar tão rápido pousou no meu

Envenenada pela falsa chama, cai meu apogeu

Inerte na trama dum falso Romeu.

Desperto dum sonho fúnebre

Envolta pelo canto histérico dos pardais

Posados em minha janela riem de mim

Dançam cirandas na alcova dos meus sentimentos.

Regurgitam alegria em meu tormento.

Estendo no varal do tempo as dores

Prendo uma a uma com os grampos da esperança,

Peço a Deus, que sequem todas minhas mágoas

Que fique somente o Amor como herança.

Sinto cheiro de queimado, miro o varal em chamas

O sol lá fora a tudo devora,

Crepitam as chamas do desamor

Embalados no acorde dos ventos, vão se embora.

Perdem-se nos jardins, alegrando aos querubins

Com o fim de minha dor

Mãe! E agora?

- Agora, receba meu acalanto,

É com tristeza que acompanho teu pranto

O amor não tarda a chegar

Como doce primavera

Para tua alma abrigar

Se não chegar?

- Chega sim pequena,

O gondoleiro do amor longe de ti se encaminha.

Vem em tua direção, fascinado pelo olhar de Camila.

Mas antes, não te esqueça do porta retratos quebrar.

( Cassiane Schmidt)