Memória de alguém que se foi (Resquícios do passado)

Sentada naquele canto debaixo da lâmpada queimada

Na estação central da cidade velha

Era ela

Aqueles cabelos

Aquele rosto frio

Era ela

Mas não era a mesma

Tinha algo estranho

Um olhar mais frio

Ela não me reconheceu

Depois de tanto tempo

Tantas noites e tantas vidas

Ela simplesmente olhou pra mim

Em um relance mórbido

E voltou a esperar seu ônibus eterno

Naquele mesmo lugar onde ele sempre passava

Como um reflexo

Uma assombração esfumaçada

E perdida nas raízes do tempo

Lá estava ela igual ao dia em que me despedi

A mesma roupa escura

O mesmo rosto de lágrimas

É aí então que o ônibus chega

Mas ela não entra

Ela nunca mais vai entrar

Não faz mais parte disso

E é assim que tudo acaba

Aquela imagem se repetindo inutilmente

Naquele banco vermelho descascado

Cercada de uma imensidão cinza

Ela espera sem vida

O ônibus que nunca veio

Ela esta lá tão fria

De um jeito que nunca a vi antes

E ela espera

Como se a vida fosse voltar a correr

Como se o passado fosse um dia reviver

Era ela

Tão bela e tão perdida

Como no dia em que a vi pela última vez

Fecho os olhos, respiro fundo e espero.

Meu ônibus já vai partir

Dou um último olhar de relance para o banco

Ela se foi, como da outra vez.

Era ela...Pela última vez...