Tenho dias...

Eu hoje estou avessa, tremente, inquieta;

Não posso parar, nem a andar me tolero

Espanto! Arrumar-me seria extrair da gaveta

Destinos e chaves de tudo e nem quero…

Dói-me a cabeça, os pés, o dizer. Cortem-me!

Vou dormir surda e cega, de chistes perfumes…

Anestesiada! Depois da noite parda deixem-me

Sem esquinas, ângulos, pontas ou gumes!

Se acordar mais à frente, agarro-me e sento-me

Troco-me em pedaços, sangrados... Perverso!

Jogo fora a chave do sentimento…ausento-me

De mim, sem mim, corrida em corpo inverso…•

Sou oposição, sou do contra em raiva e vício;

Sinto-me opaca, bala e estoiro de justas vadias…

Sou sem meio, vou pelo fim protelo o início

Que é onde estou sem saber que tenho dias…