APENAS UMA CENA

O crepúsculo se aproxima, esmaecendo o azul do mar;

As ondas estão tácitas pelas batidas descompassadas do coração;

O nível do mar aumenta a cada gota de lágrima que cai;

O vento ininterrupto pára e observa a aproximação do pranto;

O sol prorroga o tempo, o satélite da terra já rastreou a situação;

Todos almejam ver a bonança desta procela sentimental;

A calíope se aproxima, um som inefável revitaliza o desamado;

Olhares mudos e recíprocos expressam palavras traduzidas pelo coração;

O sol e a lua molduram esta cena, o vento tenta impulsionar os corpos;

As estátuas não se mexem, a fauna-marítima contempla o teatro humano;

É necessário diferenciar os homens dos animais, aí está a linguagem;

A procura se deu em todos os lugares, menos na gênese do sentimento;

O martírio como um fio de Ariadne os conduziu até ali;

O diálogo é silenciado pelo orgulho, o empasse é notícia oceânica;

Viram-se as costas, olhando para o oceano, como que interpelando à platéia;

Surge o primeiro brilho estrelar, a reminiscência do primeiro beijo é patente;

O desejo de se tornarem um sucumbe perante o general soberbânio;

A amada inicia a diáspora de volta para alhures;

Num impulso épico Alexandre reinicia sua conquista;

A amada, com os olhos embaçados de lágrimas, vê seu braço tocado;

A distância da Terra é de um braço a um olhar; os lábios tremulam;

Não há mais o que fazer, tornaram-se marionetes-sentimentais;

A sucção é iluminada por uma constelação que surge subitamente;

Não há mais corpos, e sim corpo, todos se retiram, a escuridão os cercam;

O amor será consumado, a essência humana sobrevive à civilização.