Nas ruas do novo mundo.
Encontro olhos chuvosos
nas ruas do novo mundo,
onde não há carros,
não existem prédios,
nenhum cão a atravessar
em alguma calçada a dormir.
Não existem..
Almas escorrem pelo chão,
juntam-se a corações na sarjeta
e encontram-se ao meu.
Uma garotinha sem amor
em uma livraria no fim da rua:
“Vendem-se livros de amor”.
Em uma suja padaria, um sonhador.
Café amargo é uma enorme conquista.
Oque te traz aqui,
oque me traz aqui,
senhor gordo a beira da estrada?
Precisamos de ajuda.
Entre todas e muitas janelas
vejo uma se abrir à este céu gris
libertando um bebê à eternidade.
Um décimo quarto andar
entre o céu, a terra e o inferno.
Ele já não está mais lá,
como não estou mais aqui.
Já não estou, não sou, não sinto,
não existo.
Vejo esperança no velho jardineiro
que, plantas velhas e pálidas flores,
planta num jardim de sal.
Ali eu sei, ele não sabe,
um tesouro escondido.
No jardim de sal
um tesouro mais a fundo escondido.
Aqui maçãs albinas de gosto óxido
vendidas em banca de madeira podre
por uma velha podre, de dentes podres,
pensamentos podres e cheiro mal.
Podre este ar como névoa densa
desce ao chão para esconder o cheiro
extraído das portas para as ruas
e as faces sintéticas das pessoas
cobertas por quilos de tramas de cru algodão.
Não me deixes pois tenho medo de ruas escuras.
Gosto de me sentir bem quando tocas minhas mãos,
e de teu sorriso
que enche o beco verde de ouro e calor.
Este lugar que estou não está,
mas pode ser sua rua
ou a esquina que atravessas,
ou a praça que mais gostas,
a banca de jornal.
Me mostre onde levam os sinais
que me tirem daqui
onde o lodo cobre paredes
e sobe em mim.
Onde erramos para que nos punam assim?