Nas ruas do novo mundo.

Encontro olhos chuvosos

nas ruas do novo mundo,

onde não há carros,

não existem prédios,

nenhum cão a atravessar

em alguma calçada a dormir.

Não existem..

Almas escorrem pelo chão,

juntam-se a corações na sarjeta

e encontram-se ao meu.

Uma garotinha sem amor

em uma livraria no fim da rua:

“Vendem-se livros de amor”.

Em uma suja padaria, um sonhador.

Café amargo é uma enorme conquista.

Oque te traz aqui,

oque me traz aqui,

senhor gordo a beira da estrada?

Precisamos de ajuda.

Entre todas e muitas janelas

vejo uma se abrir à este céu gris

libertando um bebê à eternidade.

Um décimo quarto andar

entre o céu, a terra e o inferno.

Ele já não está mais lá,

como não estou mais aqui.

Já não estou, não sou, não sinto,

não existo.

Vejo esperança no velho jardineiro

que, plantas velhas e pálidas flores,

planta num jardim de sal.

Ali eu sei, ele não sabe,

um tesouro escondido.

No jardim de sal

um tesouro mais a fundo escondido.

Aqui maçãs albinas de gosto óxido

vendidas em banca de madeira podre

por uma velha podre, de dentes podres,

pensamentos podres e cheiro mal.

Podre este ar como névoa densa

desce ao chão para esconder o cheiro

extraído das portas para as ruas

e as faces sintéticas das pessoas

cobertas por quilos de tramas de cru algodão.

Não me deixes pois tenho medo de ruas escuras.

Gosto de me sentir bem quando tocas minhas mãos,

e de teu sorriso

que enche o beco verde de ouro e calor.

Este lugar que estou não está,

mas pode ser sua rua

ou a esquina que atravessas,

ou a praça que mais gostas,

a banca de jornal.

Me mostre onde levam os sinais

que me tirem daqui

onde o lodo cobre paredes

e sobe em mim.

Onde erramos para que nos punam assim?

Steven Julie
Enviado por Steven Julie em 21/04/2006
Reeditado em 15/10/2006
Código do texto: T142797
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