Um corpo

Em meio a trapos, entulhos e sobras

Um farrapo desprezado e sem rumo caído

Sem coragem, sem defesa e simplesmente ferido

A calçada escura e suja, sem asfalto, sem cor

Um corpo jaz sem coberta, sem pudor, sem amor

Passei e percebi que ele estava vivo e tinha ainda calor

Porque estava escondido em tão grande solidão

É que não havia motivo, nem razão e nem sentido

A coragem o tinha abandonado e pobre coitado

Está ali sem cobertor, sem orelha, sem estrada

Ele mesmo se aprisionou na tentativa ilusória

De frear sentimentos teimosos e resistentes

Na tentativa fugaz de controlar instintos carnais

Presos a algemas e correntes de promessas

Se entorpecendo de noites vazias, de sonhos adormecidos

Queria ficar sozinho, aquele corpo jazia sem dono, sem lugar

Foi então que num rompante eu o toquei e ele respondeu

Olhei em seus olhos profundos

E percebi que aquele corpo era o meu.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 18/02/2009
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