Sucata

Prefiro ser a Medusa

Ou aquela que não tem rosto

Não sou musa, deusa ou amante

Sou apenas uma alma errante

Que ao vento canta seu lamento

Sou estranha, venenosa, surreal

Na música vago solitária e dona

Dos acordes que alguém despojou

Aguardo com ânsia o que sobrou

Retalhos de uma vida sem viço

Abro mão do sonho e do certo

Quero a dúvida louca da emoção

Jogue-me suas mentiras odiosas

Se esconda na sombra da escuridão

Consigo te ver bizarro e só

A procura de aventuras e descobertas

Mas não passas de um pobre ser

Que nas horas a solidão faz companhia

Eu, aqui sofro menos e te digo

Gosto dessa guerra em que me atiro

Invadindo corações aflitos e tristonhos

Sou ao meu modo feliz e me basto

Alimentando-me de letras declaradas

Detonando versos sem sentido

Quanto a ti, pobre coitado

Faz-se vítima e se atira como um fardo

Nas páginas da ridícula aparência.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 18/03/2009
Código do texto: T1493181