CRISTAL
Hoje acordei cristal,
vesti-me de um sol qualquer
para abraçar a vida
com gestos exultantes
e sorriso colorido.
Encantei-me na algazarra
e no giro de um bailado
dentro da alma.
Arlequim meio tonto
escorraço nuvens feias
que voltarão mais adiante,
amanhã e depois
até me encontrarem,
cristal sombrio e anichado
junto a um braço de mar.
Num cenário, assim, plausível
na paz de marés nocturnas,
poderei vir a ser sitiado
por presságios da desdita
e então - cristal exausto -
quebrar-me em mil pedaços,
pequeninos, quase nulos.
Num futuro menos dúbio
talvez me seja concedido
ser como ontem e sempre:
corpo de carne com alma
e o adorno singelo
da aura de um estado de graça
por lograr cumprir-me
como casulo descartável
de uma dádiva de fantasia
em meandros de gente.
Para todos os efeitos:
Viva tudo o que acender, hoje !
Vivas tu, cristal em mim,
para sempre !