Sou...
A bala atirada para cima, que caiu sem direção;
Aquela pintura abstrata que gera dúvida e discussão;
A ferradura pendurada na porta, do leito frio de um ancião;
A coleira que impede o ataque, presa no pescoço do cão;
A erva que cresce no asfalto, aproveitando os espaços no chão;
A pedra que que causa a dor, do pé descalço que bate o dedão;
A serpente que fica imóvel, esperando alguma distração;
A luz fraca que resiste acesa, na camisa do lampião;
A agulha da seringa, que atravessa a pele na injeção;
A lâmina suja do bisturi, na mão de um hábil cirurgião;
Sou um problema crescente, buscando rápida solução;
Sou a névoa densa que paira, atrapalhando a boa visão;
Sou aquele ponto obscuro que impede a afirmação;
Sou erro certo, contradição aparente, olhar clínico sem paixão;
Sou a coragem para a má notícia, e o sinal de reprovação;
Sou a busca pela absolvição, numa verdade em contestação;
Sou a letra mal rabiscada, por uma criança com carvão;
Sou o ponto final na frase que pede sinal de interrogação.