Sou...

A bala atirada para cima, que caiu sem direção;

Aquela pintura abstrata que gera dúvida e discussão;

A ferradura pendurada na porta, do leito frio de um ancião;

A coleira que impede o ataque, presa no pescoço do cão;

A erva que cresce no asfalto, aproveitando os espaços no chão;

A pedra que que causa a dor, do pé descalço que bate o dedão;

A serpente que fica imóvel, esperando alguma distração;

A luz fraca que resiste acesa, na camisa do lampião;

A agulha da seringa, que atravessa a pele na injeção;

A lâmina suja do bisturi, na mão de um hábil cirurgião;

Sou um problema crescente, buscando rápida solução;

Sou a névoa densa que paira, atrapalhando a boa visão;

Sou aquele ponto obscuro que impede a afirmação;

Sou erro certo, contradição aparente, olhar clínico sem paixão;

Sou a coragem para a má notícia, e o sinal de reprovação;

Sou a busca pela absolvição, numa verdade em contestação;

Sou a letra mal rabiscada, por uma criança com carvão;

Sou o ponto final na frase que pede sinal de interrogação.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 21/07/2009
Reeditado em 30/07/2009
Código do texto: T1711727
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