Ao cair da noite
À noite, tudo pode acontecer
Aquilo que é, pode não ser
Quem é fraco fica forte
Quem é vivo encontra a morte
O enfermo se torna são
O que é teto vira chão
Da paz se faz a guerra
Dos céus se faz a terra.
Quando chega o anoitecer,
O que é morto pode viver
O que é turvo fica sereno
E o calor se faz ameno
Da eternidade faz-se o momento
Do desatino o contentamento
E do silêncio vem o canto
E do sorriso vem o pranto.
À noite, tudo pode parecer
Quem não via, pode ver
O amor desfaz-se em solidão
Toda a luz em escuridão
Tem coragem quem tem medo
Agora é tarde o que já foi cedo
Dos distantes fez-se um amplexo
E do simples, o complexo...
O que há de começar
Há também de se acabar
Aquilo que se fez
Há de ir-se embora,
Mas voltará, talvez,
Quem sabe outrora...
Já se foi a hora, hora do amanhecer
Chega, agora, a vez, vez do amanhecer.