Acaso livre

Sou assim meio deserta

Sem rasura ou contorno

Sem seguimento ou reta

Uma curva sem volta

Uma volta sem partida

Sou e vou à hora que quero

Sem armadilhas, sem códigos

Desarmada caminhada sem rumo

Sem amarras, vou com minha voz

Presença efêmera e transitória

Sem medo de querer ou prender

Livre de possibilidades, teorias

Sopro palavras e engulo ventania

Bebo os olhares e beijo o ar

Quero a simplicidade do instante

Do instante me fazer amante

Presença inusitada e sem passaporte

Quero o encontro ao acaso

Desses que nos damos de presente

Pode ser no fundo, no raso, no quente

Sem temperatura ambiente

Como uma brisa que passa e deixa cheiro

Quero ser do mundo jardineiro

Que colhe o que sobrou da tempestade

Nem sequer tenho idade

Não quero teu corpo invadido

Quero roubar o instante perdido

Aquele que vai ser meu eternamente

Nem quero ler sua mente

Quero só o momento proposto

Sem qualquer delírio ou tormento

De nada fazer coisa alguma

Só respirar e olhar ao redor

Sentir o instante fluindo

Aproveitando o momento presente

Sem palavras, ver o dia diminuindo

A respiração traduzida em sentimentos

A emoção daquele momento

E o adeus sem despedida

O reencontro marcado pelo olhar

De um querer quase infindo

De coisa alguma ir se definindo

Para que a lembrança nos faça “ser”.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 27/11/2009
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