Brincar de “não existir”

Não queria me ver, sou pó

Vento ambulante que vai por aí

Areia que forma e reforma esculturas abstratas e intocáveis

Águas do mar que nunca voltam ao mesmo lugar

Vôo sem volta de um pássaro que nunca posou

Sonho que ninguém sonhou

Pecado que ninguém desejou

Pedaço de estrela que sobrou no infinito

Caco de uma história que ninguém leu

Retalhos de vidas passadas

Emendas rotas de algo que alguém escreveu

Um beijo não dado, um abraço roubado

Um nada de tudo que não viveu

Livro sem capa exposto ao tempo

Sombra sem corpo, sem reflexo

Absurdos que alguém jogou fora

Uma quadra de lembranças transitórias

Um poema desgastado e sem rimas

Perdido num baú de lembranças

Algo que a ninguém pertenceu

Dentro de mim só a certeza do “EU”.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 07/01/2010
Código do texto: T2016715