a poesia do inconsciente

eu quero chover

em fumaça condensada

quero acordar com

todos os dentes na boca

quero armar e atirar

na têmpora da irritação

quero assassinar meu suicídio

antecipar o homicídio

decaído em precipício

quero amassar aquela carta

quero atirar o avião de papel

pela janela, e quero

vê-lo cair

quero que a umidade seque

quero meu quarto frio

quero conforto de infância

quero colo de mãe

quero mãe que dê colo

quero um sonho feliz

eu quero pescar um peixe

e devolvê-lo ao mar

quero sentir as náuseas

e vomitar, eu quero

nadar em águas sólidas

da divisão insosa do calor

calor úmido e incômodo

fonte da irritação

quero rever as minhas

bases, quero palavrear

somente bençãos

a palavra tem poder

você já me disse

não esqueço o que me diz

ao contrário do que disse

quero me lembrar do que é bom

quero o bem que vem sem

delírios de vontade

sem a típica ansiedade

quero só a verdade

a simplicidade do mato

cantoria de sapo

bota e sapato

sujeira limpa de fato

cansaço que faz dormir

eu quero que deus volte

daquele velho túmulo

que eu o enterrei

quero a paz que dispensei

eu quero o tempo mais lento

ou ao menos pra mim

eu quero ocupações

preciso das suas sugestões

ouço o que me diz

ao contrário do que me disse

eu quero aquilo que vale

quero morar num safari

quero ver os bichinhos

a se entulhar

quero sofrer as causas naturais

quero as minhas raízes

quero galhos secos

quero macaquear

fugir e caçar

eu não quero me relacionar