Um alguém

Não me sinto especial,

Não me sinto capaz...

Não sou nada que sou,

Sou o oposto da paz...

Sou a sobra da cana,

Sou a embriaguês do sóbrio.

Sou a criança precoce

Sou o medo juvenil mórbido.

Sou eu o fim e o começo

Sou e não sou.

Sou a ponte que partiu

No momento em que alguém atravessou.

Sou aquele que não cresceu

Aquele que não tem palavra,

O fazendeiro em aflição

Que efêmeramente, abandona a safra.

Sou e preciso CRESCER.

Não sou, mas ainda preciso,

Dizes agora que fui impaciente

Como a dor de um dente ciso.

Fui até onde pretendia ir

Voltei e não fui a lugar algum.

Fiquei e já não vi mais nada

Decaído como um boneco vodu.

Não sou, e ainda vi o sangue

Caindo das mãos dos trabalhadores.

Fui o terror nos olhos dos escravos

Fitando o chicote nas mãos dos senhores

E agora? o que sobrou?

Já não sou mais nada, nem um grão.

Simplesmente fui aquele sujeito

Que inesperadamente, foi chamado de furão.

Ainda caem as gotas

Demonstrando a chuva que vem,

E sem poder esperar

Vê a multidão no eterno vai-vem.

Ergue-se o vulto

E já não pode mais ser.

Pois acabou sendo um espaço, um vão,

Pretendendo desaparecer.

( Jefferson Rodrigo )

Jefferson Rodrigo
Enviado por Jefferson Rodrigo em 22/08/2006
Reeditado em 22/08/2006
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