MÚMIAS

No dia em que eu morri e com o meu consentimento,

Dentro de mim eu já sabia que mais nada encontraria.

Na esperança de uma bela face eterna eu permaneceria,

Mas, o tempo em sua curiosidade virou saqueamento...

Uma caveira carnada de um verniz do remoto passado.

Uma figura que descansava em paz na sua tumba fria.

Sem olhos para ver quem de pé realmente me aplaudia,

No futuro eu chegava, era espanto no corpo desenrolado.

O meu cérebro já fora de mim, nem imaginava as emoções,

Em que num templo não respeitado, passei a ser admirado.

Sentimentos eu não tinha, pois o meu coração foi arrancado,

Meus órgãos internos foram todos removidos em operações.

Dentro oco fiquei, somente com alguns panos fui preenchido.

O meu aspecto de um corpo queimado não era a fiel realidade,

Esse semblante era de quem não viu minha forma em verdade,

Em soluções químicas que ainda são segredos eu fui embebido...

Embalsamaram-me com muito cuidado por ser um ente querido.

Rodearam-me com os meus enfeites preferidos em jóias e ouro,

Esperando que as usasse em reencarnação, um futuro vindouro?

Entre todos os rituais do passado, era um elegante fim prometido.

Do meu eterno descanso me acordaram, minhas jóias roubaram.

Os meus poderes que a mim foram designados em minha tumba,

Deixaram de ser segredos para virar uma atração que violaram,

Para ganhar muito dinheiro, na luz da fama de uma mente imunda.

Porque em minha casa, no lugar por merecimento não me deixariam?

Mesmo que em mim a curiosidade da história tivesse me analisada,

Tirassem fotos, de mim fizessem uma cópia, eu estaria descansada!

Que adianta falsas promessas de que os tesouros se conservariam,

Se de lá me tiraram? Estou nesse caixão de vidro feito uma aberração.

Hoje não encontro mais a atitude de que o corpo deve ser respeitado,

Não há mais o encanto da dignidade, para o mundo eu sou mostrado.

Acham que minha descoberta foi uma glória? Foi uma covarde invasão.

Isso na verdade é uma imoralidade que não tem fundamento e razão.

Seria uma desonra para a atualidade devolver-me para meu lindo lar?

Se conseguissem fazer com que o meu corpo pudesse para lá voltar,

Eu com certeza agradeceria, e desse mundo tiraria a minha maldição.

Setedados
Enviado por Setedados em 26/05/2010
Reeditado em 06/07/2011
Código do texto: T2281917
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