DANÇA DE CORPOS

A musica ao longe,

Já anuncia o grande baile,

Hoje é o dia,

Da dança de corpos.

Centenas já estão à espera,

Outras centenas virão.

Assim que a musica iniciar.

É um estranho baile.

Onde a dança não segue um ritmo,

Não existe uma coreografia.

As pessoas dançam,

Com seus corpos suados,

Com poucas vestimentas,

Para sentirem-se mais leves.

A musica frenética,

Apenas alimenta aquele ritual.

Ao mesmo tempo em que se vêem,

Movimentos tresloucados,

Nota-se suavidade em outros.

Uns até ensaiam com outros,

Mas logo distanciam-se,

Como se rompessem a ligação,

Não querem uma união,

Limitam-se apenas a dançar.

Vemos corpos bem delineados,

Outros bem grotescos.

Ninguém se compara ou repara.

Alguns até mudam o aspecto físico,

Durante a dança de corpos.

Na verdade, a beleza não conta.

Apenas a expressão libertada.

Respiram forte aquele ambiente,

Como se engolissem a musica.

O som da musica domina.

Não se ouvem vozes humanas.

Cada instrumento musical,

Lança o seu grito.

Uns graves outros agudos.

Mas todos têm um ritmo.

Existe uma harmonia musical.

A dança rompe a noite.

No céu, apenas as estrelas,

Cintilam cada vez mais brilhantes,

Como se fossem meras expectadoras.

Apenas observam das alturas.

Tornam-se cúmplices do espetáculo,

Testemunhas da dança de corpos.

Os músicos, apenas tocam seus instrumentos.

Com seus olhos vendados,

Não presenciam os estranhos movimentos.

Andam como se fossem guiados,

Por um som que a multidão não distingue.

Dança de corpos...

Rompem o silencio que armazena,

Libertam a ansiedade da angustia,

Criam olhares que ilumina,

Exorcizam o estranho que os habita,

Liberam-se de uma maneira gradual.

Os movimentos vão evoluindo,

Uns pulam bem alto,

Outros, apenas andam.

Uns se arrastam,

Outros empurram,

Outros são arrastados.

E assim, a noite compartilha.

Doa a sua cobertura aquele espetáculo.

Onde todos se entregam ao êxtase,

Como se estivessem se limpando,

Se libertando do que as incomoda.

A dança de corpos não tem data,

Nem hora para acontecer.

Não é expedido convites,

Não é feita nenhuma convocação.

Numa determinada noite,

Naquele mesmo local,

O comparecimento de todos é maciço.

Eles aguardam pacientemente,

A chegada da orquestra,

Com sua musica profunda, enigmática,

Que os fará entrar em transe.

Dança de corpos...

O que ela liberta,

O que reprime,

O que mostra,

O que fantasia,

O que ela cria?

Será que ela mostra o eterno,

A beleza do divino,

A claridade da luz,

O encontro das almas,

Ou o paraíso que ansiamos?

Dança de corpos...

Di Camargo, 02/06/2010

Di Camargo
Enviado por Di Camargo em 02/06/2010
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